Confira entrevista realizada com Joaquim Cardoso, Assessor Especial do Presidente Executivo da Fundação Odebrecht. Ele relata momentos marcantes de sua relação com Norberto Odebrecht, o compromisso de Eduardo Odebrecht de Queiroz à frente da Fundação e sua visão sobre o momento atual e o futuro da instituição.
1. Por muitos anos, o Sr. esteve ao lado de Norberto Odebrecht (NO) como seu assessor na Fundação Odebrecht. Que histórias e vivências destacaria desta relação?
Joaquim Cardoso - Minha primeira vivência com Drº Norberto se deu na década de 1980, muito antes da minha vinda para a Fundação Odebrecht. Eu estava no Ministério da Agricultura, como Secretário Geral, e discutíamos reformulações conceituais voltadas ao cenário da agricultura brasileira. Em uma dessas reuniões, fui informado de que Dr. Norberto Odebrecht estaria presente, disposto a colaborar com o governo em um projeto de modernização da agricultura, que tinha como foco o aumento contínuo de sua produtividade. Não só ele ficou encantado com o plano ministerial de trabalho para essas questões, como nós vimos nele uma grande vontade de transformação. Ele foi um protagonista decisivo, entendia que a agricultura precisava de vontade política, otimizada pela ação empresarial. Era a visão de um grande empresário que colocava a agricultura em uma concepção moderna, que buscava uma nova gestão para que ela pudesse ser acompanhada e vista como negócio. Desde então, nunca paramos de conversar e refletir sobre essas inquietudes. Até que, em 2006, ele me convidou a integrar a Fundação, para que pudéssemos vivenciar e praticar essas ações no dia a dia. Dediquei-me, então, na elaboração do Plano de Desenvolvimento e Crescimento Integrado da APA do Pratigi, que foi formulado, programado e implantado graças à visão de Drº Norberto, um homem à frente do seu tempo. Da nossa relação, portanto, posso dizer que a grande lição que ficou é que devemos estar sempre prontos para fazer reflexões e aperfeiçoar diariamente o nosso processo decisório, pois isso é que faz o homem ser capaz de conviver com os seus negócios e com o seu ambiente, especialmente no bom uso dos recursos naturais. Também sou testemunha de quanto o governo, na concepção de sua estratégia, ganhou na relação com Drº Norberto.
2. Desde 2014, o Sr. assessora Eduardo Odebrecht de Queiroz, que foi escolhido por NO em vida e preparado por ele para assumir a Presidência da Fundação. Como o Sr. avalia a responsabilidade de Eduardo à frente da instituição e seu compromisso com a perpetuidade do legado de NO?
JC - Para mim, legado é aquilo que projeta o futuro. Não conheço alguém que tenha, do ponto de vista gerencial, tanta disposição, sensibilidade e olhar para o futuro como Drº Eduardo. Somos privilegiados por ter uma pessoa que veio dar sequência a um grande trabalho e que possui todas as credencias para isso. é legítimo, com o DNA da formação e do espírito da determinação, e que tem como sustentação e base a inspiração desse legado. Eduardo possui a compreensão do todo, a decisão de fazer acontecer e, mais do que isso, a habilidade de ter convivido com o avô e tomar decisões que são necessárias para os ajustes e adaptações que o atual momento exige. Sem medo, posso afirmar que a Fundação Odebrecht mantém uma estratégia espetacular de como salvar a essência. Essa essência está posta, com uma pessoa que tem a capacidade de reflexão e a disposição para as mudanças.
3. Em conjunto com parceiros e instituições apoiadas, a Fundação vive, hoje, um momento relevante de sua Governança. Qual a importância deste marco para a instituição?
JC - Um Pacto resulta de uma decisão consciente e deliberada. Não há nada mais forte do que a negociação e a convergência de todos em uma proposta de desenvolvimento sustentável. E materializamos isso com o nosso Pacto [de Governança da Fundação Odebrecht, assinado com as instituições que apoia no âmbito do Programa PDCIS], que é um dos símbolos mais importantes na atribuição de responsabilidades e soma de esforços para resultados que visam o futuro. Essa experiência, vivida hoje pela Fundação e instituições apoiadas, está sendo colocada em prática não só no papel. Está fazendo a diferença nos encontros, nas reuniões, no próprio dia a dia. é um dos sonhos de Drº Norberto que tomou forma: o de que é preciso ter a convergência da visão do futuro para que todos participem e se beneficiem. Nunca vivi uma experiência mais concreta e sólida do que essa. O Pacto é eficiente, um avanço incrível que está sendo entendido de forma fácil por ter objetivos claros, com compromisso e com uma referência comum. é um modelo para quem quer discutir e propor desenvolvimento sustentável.
4. Fale um pouco sobre os desdobramentos desse Pacto no que tange o apoio político, tendo como exemplo prático o último encontro dos líderes do Programa PDCIS com o Vice-Governador da Bahia.
JC - A vontade política está presente em todas as nossas ações. Sem o apoio político não há como pensar em desenvolvimento. Se temos na região uma massa crítica, precisamos trabalhar com as potencialidades de cada um a favor do todo – e nós temos líderes que entendem sobre seus programas e que podem falar e agir com propriedade. E a substância desse apoio é o mérito. O encontro com o Vice-Governador foi um exemplo prático de que temos esse reconhecimento. Estamos estabelecendo um virtuoso pacto de decisões e ações, pautado em reciprocidades de direitos e responsabilidades, em um jogo do ganha-ganha.
5. Baseada na Tecnologia Empresarial Odebrecht, a Fundação chegou aos seus 50 anos tendo como prioridade a geração de oportunidades para que pessoas possam transformar suas vidas. Como isso está acontecendo na prática?
JC - A transformação é mais do que a geração de resultados econômicos. é a mudança de visão e a permanente reflexão. As oportunidades precisam ser vistas no plano das pessoas. E não tem algo mais forte do que a geração de oportunidades no plano familiar – o que a Fundação faz muito bem. Percebemos isso na prática ao ver a vibração dos beneficiários, jovens que diziam não ter preocupação com a água limpa e que agora são verdadeiros gestores de sua paisagem, por exemplo. Precisamos enxergar as oportunidades na visão deles, que contribuem e que estão envolvidos diretamente nesse processo. Para a Fundação, a família é o primeiro passo para o uso adequado das oportunidades. E essa visão faz todo o sentido, pois estamos preparando líderes da comunidade, a chamada massa crítica, para que eles sejam os agentes da mudança. Nós estamos despertando neles essas oportunidades.
6. Fale um pouco sobre o conceito de sustentabilidade praticado pela Fundação Odebrecht. Qual seu principal valor agregado?
JC - No mundo moderno, há um consenso de que a vida das gerações futuras precisa ser preservada. E a conclusão de que essas gerações têm o direito de receber de nós as condições de vida do planeta é universal. Então nos perguntamos: como fazer com que isso aconteça, se não temos essa garantia nem para a nossa atual geração? é por isso que acreditamos que precisamos, com urgência, trabalhar para resolver os problemas atuais. E essa amarração foi feita de forma genial por Dr. Norberto, ao dizer que precisamos criar uma harmonia entre os capitais humano, produtivo, social e ambiental. Se eles estiverem em desequilíbrio, é porque estamos diante de uma questão urgente. Precisamos encontrar o equilíbrio dos fluxos de vida, que são o solo, a água, a fauna e flora, com o homem e seus negócios. No propósito da sustentabilidade, o maior aliado é a insistente busca da recuperação espontânea do seu equilíbrio pela própria natureza. A questão maior é observar e cumprir as leis da natureza.
7. Pensando no futuro, quais são os caminhos que a Fundação ainda busca trilhar?
JC - A Fundação Odebrecht é o instrumento mais claro para a reflexão sobre o todo. Sem essa visão, temos o risco de dispersar. E esse todo tem que ser focado no futuro, com acompanhamento, transferência de tecnologias e profissionalização. Portanto, essa visão, e o interesse comum, superior e nobre, compreendidos de forma eficaz por Drº Eduardo, é que norteiam o futuro. A Fundação tem um desafio grande de permanentemente preparar a comunidade, para que eles busquem a sustentabilidade dos seus negócios. E já estamos fazendo isso. Nossas experiências mostram que o futuro está sendo melhorado de forma consciente e deliberada pela comunidade. O mais importante é compreender que a sustentabilidade não é estanque, tem uma dinâmica própria e requer ajustes e adaptações permanentes.